e comprido, que ele arranjava em caracóis, à força de pente e banha e sobre o qual punha às tardes, o melhor de seus dois chapéus brancos. Anacleto Monteiro adorava o chapéu branco e as botas de verniz. Naquele tempo alguns gamenhos usavam umas botas de verniz de cano vermelho. Anacleto Monteiro adotou esse invento como a mais sublime das invenções do século. E tão gentil lhe parecia a idéia do cano vermelho, que nunca saía de casa sem levantar uma polegada às calças para que os olhos das damas não perdessem aquela circunstância da cor de crista de galo. As calças eram finas mas vistosas, o paletó esticado, a luva cor de canela ou de cinza, em harmonia com a gravata, que era cor de cinza ou de canela. Ponham-lhe uma bengala na mão e vê-lo-ão tal qual era, há vinte e cinco anos, o primeiro gamenho de seu bairro.
Dizendo que era o primeiro não me refiro à elegância mas à audácia, que era verdadeiramente napoleônica. Anacleto Monteiro estava longe de competir com outros rapazes do tempo e do bairro, no capítulo da toilette e das maneiras; mas derrubava-os a todos no namoro. No namoro era um verdadeiro gênio. Namorava por necessidade, do mesmo modo que o pássaro canta; era índole, vocação, conformação do espírito. Que mérito ou que culpa há na mangabeira em dar mangas? Pois era a mesma coisa Anacleto Monteiro.
— Este pelintra ainda me há de entrar em casa um dia com as costelas quebradas, dizia o tio a uma parenta; mas se ele pensa que chamarei médico, engana-se redondamente. Meto-lhe o côvado e meio de pano no corpo, isso sim!
— Rapaziadas... objetava timidamente a parenta.
— Qual, rapaziadas! desaforadas, é o que deve dizer. Não respeita nada nem ninguém; é só namorar. Tudo o que ganha é para aquilo, que a senhora vê; é para adamar-se, almiscarar-se, e lá vai ele! Ah! se ele não fosse filho daquela irmã, que Deus tem!...
E o sr. Bento Fagundes consolava-se das extravagâncias do sobrinho inserindo no nariz duas onças de Paulo Cordeiro.
— Deixai lá; mais dia menos dia, vem o casamento e sossega.
— Qual casamento, qual carapuça! Pois como há de casar uma cabeça de vento que namora às quatro e às cinco?
— Uma das cinco fisga-o...
— Há de ser naturalmente a pior.
— Isso lá, são desatinos. O que podemos ter por certo, é que ele não há de gastar a vida toda nisso...
— Gasta, gasta... Olhe, o barbeiro é dessa opinião.