Uma noite aventurou o pedido.
Carlota ouviu-o com palpites; mas sua resposta foi uma evasiva, um adiamento.
— Mas por que não me responde já? dizia ele desconfiado.
— Quero...
— Diga.
— Quero primeiro sondar mamãe.
— Sua mãe não se oporá à nossa felicidade.
— Creio que não; mas não desejo dar palavra sem estar certa de a poder cumprir.
— Logo não me ama.
— Que exageração!
Anacleto mordeu a ponta do lenço.
— Não me ama, gemeu ele.
— Amo, sim.
— Não! Se me amasse, outra seria sua resposta. Adeus, Carlota! Adeus para sempre!
E deu alguns passos...
Carlota não lhe respondeu nada. Deixou-se ficar à janela até que ele voltasse, o que não demorou muito. Anacleto voltou.
— Jura que me ama? disse ele.
— Juro.
— Vou mais tranqüilo. Só desejo saber quando poderei obter sua resposta.
— Dentro de uma semana; talvez antes.
— Adeus!
Desta vez o vulto que o espreitara em uma das noites anteriores, estava no mesmo lugar, e quando o viu afastar-se caminhou para ele. Caminhou e parou; olharam-se: foi um lance teatral.
O vulto era Adriano.
Vai o leitor vendo que o conto não se parece com outros de água morna. Neste há inclinação trágica. Um leitor atilado vê já ali uma espécie de fratricídio moral, um produto do destino antigo. Não é bem isto; mas podia ser. Adriano não sacou um punhal do bolso, nem Anacleto recorreu à espada, que aliás nem trazia nem possuía. Digo mais: Anacleto nem suspeitou nada.
— Tu por aqui!
— Ando a tomar fresco.