— Tens razão; faz um calor!
Os dois seguiram; falaram de várias coisas estranhas até chegarem à porta da casa de Adriano. Cinco minutos depois, Anacleto despedia-se.
— Onde vais?
— Para casa; são nove horas.
— Podes dispensar alguns minutos? disse Adriano em tom sério.
— Pois não.
— Entra.
Entraram.
Anacleto ia meio intrigado, como dizem os franceses; o tom do primo, seus modos, tudo tinha um ar misterioso e aguçava a curiosidade.
Adriano não o fez demorar muito, nem deu lugar a conjecturas. Logo que entraram, acendeu uma vela, convidou-o a sentar-se e falou por este modo:
— Você gosta daquela moça?
Anacleto estremeceu.
— Que moça? perguntou ele depois de curto silêncio.
— A Carlota.
— A da Praia da Gamboa?
— Sim.
— Quem lhe disse isso?
— Responda: gosta?
— Creio que sim.
— Mas... deveras?
— Essa agora!
— A pergunta é natural, disse Adriano com tranqüilidade. Você é conhecido por gostar de namorar umas e outras. Não há motivo de censura, porque assim fazem muitos rapazes. Por isso desejo saber se gosta deveras, ou se é um simples passatempo.
Anacleto refletiu alguns instantes.
— Desejava saber qual será sua conclusão em qualquer dos casos.
— Simplíssima. No caso de ser passatempo, pedir-lhe-ei que não ande a iludir uma pobre moça que lhe não fez mal nenhum.
Anacleto já estava sério.
— E no caso de gostar deveras? disse ele.
— Neste caso, dir-lhe-ei que também gosto dela deveras e que, sendo ambos competidores, poderemos resolver este conflito por algum modo.
Anacleto Monteiro bateu com a bengala no chão e ergueu-