— Ora essa!
— Sabes o que me propôs?
— Que foi?
— Que eu desistisse de tua mão em favor dele.
— Tolo!
— Não achas?
— Sem dúvida!
— Juras-me que não é dele?
— Juro!
— Vou mais contente. Mas quando falarás a tua mãe?
— Hoje; hoje ou amanhã.
— Fala hoje mesmo.
— Pode ser.
Depois de um instante disse Carlota:
— Mas eu nem me lembro de o ter visto! Que figura tem ele?
— Um jarreta.
E Anacleto Monteiro, com aquela ternura que a situação lhe metia na alma, descreveu a figura do primo, de quem Carlota se lembrou logo perfeitamente.
Fisicamente, não ficou a moça lisonjeada; mas a idéia de ser loucamente amada, ainda por um jarreta, foi-lhe muito agradável ao coração. As mulheres são principalmente sensíveis. Demais, Anacleto Monteiro cometera erro crasso sobre erro crasso: além de referir a paixão do primo, exagerou-lhe os efeitos; e dizer a Carlota que um rapaz chorava por ela e se arrepelava era o mesmo que recomendar-lho à imaginação.
Carlota pensou efetivamente no jarreta, cuja paixão lhe parecia, senão mais sincera pelo menos mais ardente que a do elegante. Tinha lido romances; gostava dos amores que saem do vulgar. A figura, porém, de Adriano, temperava cruelmente essas impressões. Quando lhe lembrava o trajo e o desalinho do rapaz, sentia-se algo vexada; mas, ao mesmo tempo, perguntava a si própria se o apuro de Anacleto não orçava pelo ridículo. As gravatas deste, se não eram amarrotadas como as de Adriano, eram vistosas demais. Ela não sabia ainda o nome do jarreta, mas já o nome de Anacleto lhe não parecia bonito.
Estas imaginações de Carlota coincidiram com a pontualidade do alfaiate de Adriano, por modo que no dia seguinte ao da notícia que Anacleto lhe dera, viu Carlota aparecer o seu amador silencioso, melhormente encadernado. A moça estremeceu ao vê-lo e quando ele lhe passou pela porta, a olhar para ela, Carlota não retirou os olhos nem