lhes deu má expressão. Adriano passou, olhou duas vezes para trás sem que ela saísse da janela. Longe disso! Estava tão encantada com a idéia de que aquele homem chorava por ela e se finava de amores, que ele lhe pareceu melhor do que estava.
Ambos ficaram satisfeitos um do outro.
Este é o ponto agudo da narração; repouse a leitora um instante e verá coisas espantosas.
Carlota está a duas amarras. Adriano declarou-se por meio de uma carta, em que lhe disse tudo o que sentia; a moça, vendo que os dois amadores eram parentes e sabiam mutuamente o que sentiam, receou escrever-lhe. Resolveu, porém, a fazê-lo, mudando um pouco a letra e esfriando a frase mais que pôde. Adriano ficou satisfeito com esse primeiro resultado, e insistiu com outra epístola, a que ela respondeu, e desde logo se estabeleceu ativa correspondência.
Não deixou Anacleto de suspeitar alguma coisa. Primeiramente, viu a mudança que se operara nas roupas do primo; encontrou-o na praia algumas vezes; finalmente, Carlota parecia-lhe às vezes distraída; via-a menos; recebia menos cartas.
— Dar-se-á caso que o pelintra...? pensou ele.
E meditou uma vingança.
Não atinou com ela, cogitou um suplício entre os maiores possíveis e não encontrou nenhum. Nenhum estava na altura de seus brios.
Eu sinto dizer a verdade à leitora, se alguma simpatia lhe merece este namorado: Anacleto... tinha medo. De bom grado cederia todas as Carlotas do mundo se corresse algum risco corporal. Num momento de raiva era capaz de soltar algum impropério; era até capaz de fazer algum gesto de ameaça; chegaria até a um princípio de realização. Mas o medo dominaria logo. Ele tinha medo do primo.
— Infame! dizia ele com os seus botões.
Os botões, que não eram aliados ao primo nem tinham que ver com os interesses dele, mantinham-se com exemplar discrição.
Anacleto Monteiro adotou a politica da defensiva. Era a única. Tratou de conservar as posições conquistadas, não sem tentar tomar de assalto o reduto matrimonial, reduto que forcejava por não cair.
Os encontros dos dois na praia eram freqüentes; um empatava o outro.