JORNAL DAS FAMILIAS
49

Dizer francamente a Emilia que elle sabia dos sentimentos que a ligavão a Valentim, era, ao parecer do pai, encaminhar para os dous corações o complemento da felicidade sem hesitações nem mortificações intimas.

Pensando assim, Vicente foi diretamente á filha e disse-lhe:

— Emilia, nunca pensaste no casamento?

— Eu, meu pai?

— Sim, tu.

— Que pergunta, meu pai!

— É uma pergunta. Responde.

— Nunca!

— Ora, para que dizes isso assim abaixando os olhos e ficando com as faces vermelhas? Anda lá, minha filha, tu já pensaste no casamento...

— Meu pai quer que eu lhe falle a verdade?

— Nunca se mente a um pai.

— Pois sim; já pensei no casamento.

— Ah!... E...

— E?...

— E pensaste que eu mais dia menos dia havia de bater a bota e que tu ficavas sózinha no mundo.

— Oh! meu pai...

— Em tal caso, era preciso que o marido substituisse o pai... Ora, para substituir um pai como eu, é preciso um marido como eu fui... Que te disse teu coração?

— Não consultei...

— Não? É mentira...

— Disse...

— Valentim?

— É verdade, meu pai!

— Pois bem... Acho que fazes boa escolha. É um bom moço, activo e que parece gostar de ti com extremo. O segredo n’estas cousas seria agora uma hypocrisia sem nome. Melhor é que sejamos francos. Tu o amas e fazes bem. Se Valentim hesita em pedir-te em casamento, não o deixes n’essa hesitação...

— Oh! obrigada, meu pai!

E Emilia, deitando a cabeça no seio de Vicente, deixava correr pellas faces lagrimas de contentamento.

Na primeira occasião em que Emilia se encontrou a sós com Valentim disse-lhe que tinha razões para crer que seu pai não aceitaria mal uma proposta de casamento.