Dizer francamente a Emilia que elle sabia dos sentimentos que a ligavão a Valentim, era, ao parecer do pai, encaminhar para os dous corações o complemento da felicidade sem hesitações nem mortificações intimas.
Pensando assim, Vicente foi diretamente á filha e disse-lhe:
— Emilia, nunca pensaste no casamento?
— Eu, meu pai?
— Sim, tu.
— Que pergunta, meu pai!
— É uma pergunta. Responde.
— Nunca!
— Ora, para que dizes isso assim abaixando os olhos e ficando com as faces vermelhas? Anda lá, minha filha, tu já pensaste no casamento...
— Meu pai quer que eu lhe falle a verdade?
— Nunca se mente a um pai.
— Pois sim; já pensei no casamento.
— Ah!... E...
— E?...
— E pensaste que eu mais dia menos dia havia de bater a bota e que tu ficavas sózinha no mundo.
— Oh! meu pai...
— Em tal caso, era preciso que o marido substituisse o pai... Ora, para substituir um pai como eu, é preciso um marido como eu fui... Que te disse teu coração?
— Não consultei...
— Não? É mentira...
— Disse...
— Valentim?
— É verdade, meu pai!
— Pois bem... Acho que fazes boa escolha. É um bom moço, activo e que parece gostar de ti com extremo. O segredo n’estas cousas seria agora uma hypocrisia sem nome. Melhor é que sejamos francos. Tu o amas e fazes bem. Se Valentim hesita em pedir-te em casamento, não o deixes n’essa hesitação...
— Oh! obrigada, meu pai!
E Emilia, deitando a cabeça no seio de Vicente, deixava correr pellas faces lagrimas de contentamento.
Na primeira occasião em que Emilia se encontrou a sós com Valentim disse-lhe que tinha razões para crer que seu pai não aceitaria mal uma proposta de casamento.