Valentim pareceu morrer de alegria com a noticia.
Todavia, passarão-se dous, tres, cinco, dez dias, sem que Valentim dissesse nada nem a Emilia nem a Vicente.
Emilia insistio.
— Creio que você não me ama, disse ella ao rapaz.
— Porque, meu coração?
— Porque nem fallou ainda a meu pai... Olhe, estou certa de que elle não aceitará mal o pedido...
— Conclues d’isto que te não amo?
— Pois então?
— Escuta, Emilia, disse Valentim, quero proceder como cavalheiro e homem de juizo. Sabes que, como medico, não tenho um só doente a quem curar. Novo ainda, não tenho pratica nem nomeada.
— Ah! disse a moça.
— Não me interrogues... Ouve: sendo assim, propôr-me a ser teu marido é propôr-me a fazer a tua desgraça, quando o que eu desejo n’este mundo, mais do que a salvação, é fazer-te a mais feliz das mulheres... que fazer? Fui a um dos ministros e pedi-lhe um emprego... por estes dias serei despachado. Com elle posso ser teu marido, e sêl-o-hei, Emilia, juro-te...
Estas palavras ditas no tom mais insinuante convencêrão a rapariga. Um beijo, um só, mas casto, mas profundo, mas d’aquelles que fundem duas existencias em uma só, terminou a conversação e sellou o juramento.
Emilia deu conta a seu pai dos projectos de Valentim. Vicente ouvio a narração de sua filha com a alma nadando em jubilo. Era aquillo mesmo que elle desejára no marido de sua filha: a prudencia, o tino, a dedicação.
A primeira vez em que Valentim entrou em casa, Vicente não se pôde ter; atirou-se-lhe aos braços.
— Muito bem, meu rapaz!
— Que é? perguntou Valentim, sem comprehender.
— Muito bem! Vejo que és um homem honesto. Teus projectos mostrão de tua parte que és o mais proprio marido que se podia escolher para minha filha... Queres que eu te chame meu filho?
— Meu pai! disse Valentim, deitando-se-lhe nos braços.
Desde então ficou assentado que Valentim, apenas empregado, casaria com Emilia.
Foi d’este modo romanesco, fora dos habitos communs, que se tratou o casamento da filha de Vicente.
Puzerão-se todos a esperar o despacho de Valentim. Todavia, ou porque não houvesse ainda bom lugar a dar a Valentim, ou porque alguma estrella