má perseguisse a familia do pobre Vicente, o que é certo é que o despacho não appareceu ainda dous mezes depois das scenas que narramos.
Valentim, quando se tratava d’isso em conversa, respondia ao seu futuro sogro e á futura mulher que o ministro costumava a affirmar-lhe que podia contar com o despacho, mas que deixasse esperar melhor occasião.
E n’essa expectativa andavão todos.
Mas os dias e os mezes corrião.
Um dia entrou Valentim em casa da namorada dando gritos de grande contentamento:
— Que é isso? perguntou-lhe Vicente.
— Meu sogro, tudo está arranjado.
— Ah!
— Não sahio ainda o despacho, mas ha de sahir d’aqui a um mez.
— Ainda um mez!
— Todavia o ministro exige que durante este tempo eu vá á província de *** cumprir uma missão toda pessoal... pessoal e não politica. Não acha que devo ir?
— Deve...
— Não faço despeza alguma. Tudo corre por conta do ministro...
— Um mez! exclamou Emilia.
— Um mez, é verdade.
— Tanto tempo!
— Depressa se passa. Coragem, minha... D. Emilia!
Vicente ficou contente por ver que em breve se realizavão os seus desejos, e n’esse sentido fallou a Emilia, dizendo-lhe que não se assustasse com a viagem de Valentim.
— Mas eu tenho medo de duas cousas.
— O que é? perguntou o namorado.
— O mar...
— Ora, o mar!
— E o esquecimento...
— O esquecimento!
— Jura?
— Pela mão de seu pai...
E Valentim beijou respeitosamente a mão de Vicente.
Depois, para expellir da cabeça de Emilia as idéas que lhe havião entrado, Valentim continuou a conversar com Vicente.
— Com que, então, disse elle, vamos ser collegas, empregados publicos...