Recuou.

Tinha dado com os olhos no rosto de Valentim.

A janela abriu-se e Valentim apareceu aos olhos da moça...

A moça hesitou; recuou ainda, mas depois vencida por força interior, força inocente e amorosa, foi à janela e beijou a testa do amante.

— Obrigada, disse ela. Parece que te devia este beijo todo do coração...

Seguiu-se um momento de silêncio. Um olhar profundo, intenso, e reflexão do coração, prendeu aquelas duas almas por longos minutos.

Depois Valentim começou a beijar os cabelos e as mãos de Emília. Emília tinha uns belos olhos pretos que se escondiam sob os cílios ante as carícias do amante apaixonado.

Meia hora passou-se assim.

Só no fim desse tempo ocorreu a Emília perguntar onde estava apoiado Valentim.

Valentim apoiava-se numa escada leve e construída de modo a poder dobrar-se. É preciso acrescentar que o que facilitava esta escalada de Romeu era a solidão do lugar, cujo morador mais próximo estava a cem passos dali.

Valentim só reparou que estava fatigado quando esta pergunta lhe foi dirigida por Emília.

Então sentiu que tinha as pernas frouxas e ia sendo presa de uma vertigem.

Para não cair agarrou-se à janela.

— Ah! exclamou Emília.

E Valentim, não podendo segurar-se, julgou dever saltar para dentro.

E saltou.

A escada ficou pendente e oscilou um pouco pela impressão do movimento de Valentim.

A janela conservou-se aberta.

Estava uma noite linda, linda como aquelas em que os anjos parece que celebram no céu as festas do Senhor.

Valentim e Emília encostaram-se à janela.

— Amar-me-ás sempre? perguntou Emília fitando namorados e ciosos olhos no seu amante.

— Oh! sempre! disse Valentim.

— Não sei por quê, diz-me o coração que, uma vez passado o mar, hás de esquecer-me.

— Não digas isso, Emília, Emília, nunca te esquecerei, nem fora possível depois que jurei entre mim aceitar-te por mulher diante de Deus e dos homens. Mas se ainda uma vez queres que to jure...