— Por esta noite, por Deus que nos ouve?

— Sim.

Os dois olharam-se de novo com aquele olhar supremo em que os corações apaixonados sabem traduzir os seus sentimentos nas horas de maior exaltação.

Encostados à janela os dois amantes viram correr os meteoros do alto do céu até o horizonte, deixando após si um sulco luminoso que se apagava logo. A noite era das mais belas noites de verão.

O espírito suspeitoso de Emília achava, apesar dos juramentos reiterados de Valentim, ocasião para revelar as suas dúvidas.

Olhando tristemente a estrela que corria.

...Cette étoile qui file, Qui file, file et disparait, *

A moça dizia baixinho:

— Quem sabe se, como esta estrela que desapareceu, não há de ser o amor dele, que nem ao menos lhe deixará no coração uma lembrança sequer, como esta estrela não deixa vestígios no céu?

— Sempre desconfiada, Emília.

— Ah! dizia ela como que acordando.

— Não te jurei já?

— Juraste... mas os pressentimentos...

— Criancice!

— Às vezes são avisos do céu.

— Contos da carochinha! Não te disse já que te amava?...

E um beijo longo, mais longo que o primeiro, uniu os lábios de Valentim aos de Emília.