daquela célebre tia de quem eu lhe falei algumas vezes e que acabava de morrer.
Há de convir que não podia tê-los mais poderosos.
Terminarei com um aviso salutar.
Naturalmente ao receber esta carta V. Sa. prorrompe contra mim e vai derramar em uma folha de papel todo o ódio que me votar.
Declaro que será trabalho inútil. E outro princípio meu: não responder a cartas inúteis.
Dito isto não o enfado mais. Valentim.
A insolência desta carta produziu em Vicente um efeito doloroso. Não era só a fé de uma moça que fora iludida; era também a dignidade de pai e de ancião que o inconsiderado moço ultrajava, no velho pai de Emília.
Vicente, quando acabou de ler a carta, amarrotou-a com furor e levantou-se da cadeira pálido e trêmulo.
Nesse momento apareceu Emília, e vendo o pai naquele estado de agitação, correu para ele:
— Que tem, meu pai?
— Que tenho? É esta carta...
— Esta carta!?
E Emília procurava ler as folhas amarrotadas que Vicente lhe mostrava sem as largar das mãos.
— Que diz esta carta, meu pai? perguntou Emília levantando os olhos para Vicente.
Vicente olhou para ela, atirou a carta para uma gaveta, fechou-a, e foi sentar-se em um sofá.
— Que dizia aquela carta?
— Minha filha... tens coragem?...
— Tenho... mas...
— Escute bem.
Emília ajoelhou-se aos pés de Vicente e com a cabeça nos joelhos deste escutou.
— O que te vou dizer é grave, continuou Vicente; prepara-te. Para que enganar-te mais tempo? Melhor é que te desengane de uma vez. Emília, Valentim não te ama, não volta cá, dispensa-te da fé que lhe juraste.
— Ah!
Foi um grito, um só, mas que parecia saído do fundo do coração e que devia ir ecoar na estância da eterna justiça.
Emília caiu sem sentidos.
Vicente enganara-se.