que não reparei nisso, que aliás não era muito de admirar, atenta a maneira por que tinha preso o coração. Tinha preso, tinha. Para que negá-lo? D. Emília é cheia de encantos e de graças; eu sou moço e ardente. O amor pôs-me poeira nos olhos.

Enquanto eu estava nesse estado inteiramente de rapaz apaixonado, compreende-se facilmente uma fantasia de momento. Então, como viu, fizemos ambos mútuas promessas.

Mas, não há como o mar para dissuadir os homens, ainda os mais apaixonados, de algumas idéias extravagantes que tenham em sua vida.

O mar fez-me bem.

Quando cá cheguei tinha o espírito mais lúcido e o coração mais calmo. Reparei que se lá fico mais tempo destruía dois princípios de minha vida.

O primeiro é o de nunca olhar para baixo; o segundo é o de não sacrificar a minha liberdade a ninguém, de baixo ou de cima.

Este sacrifício era inevitável se eu realizasse o casamento com D. Emília, pessoa a quem, aliás, tributo a maior veneração.

Mal me achei aqui e reconheci esta situação pensei logo em dizer a V. Sa. quais eram as minhas intenções; mas era cedo, e talvez isso produzisse maus resultados, no tocante à sensibilidade de D. Emília.

Por isso escrevi-lhe aquela carta, única que lhe escrevi, e na qual eu lhe dizia mil tolices tendentes a provar que ainda amava a filha de V. Sa.

Depois que recebi uma carta que V. Sa. me contava umas coisas realmente enfadonhas é que eu senti tê-las provocado. Mas, uma vez convertido ao bom senso, fora tolice voltar atrás; calei-me à espera de que passasse mais tempo.

Hoje creio que já as dores terão passado, e salvo ainda a ocasião para dizer-lhe todos estes meus pensamentos com aquela franqueza própria de um cavalheiro como eu.

Não será de falta de franqueza que V. Sa. me acusa.

Portanto, e visto o mais dos autos, instituo a V. Sa. a palavra que me deu de dar-me sua filha por esposa, presente este que eu aceitava com as mãos abertas a não sem os supraditos princípios que eu enunciei e que são e serão sempre a norma de minha vida.

Resta-me informar a V. Sa. dos motivos que me trouxeram de lá para cá. Não foi nenhum motivo de missão ministerial, nem coisa que com isso se pareça. Os motivos foram dois: o primeiro, certo pressentimento de que eu estava fora dos eixos tentando casar com D. Emília; o segundo, ir receber a herança