— Creio que é a hora do golpe.
— Só para a semana poderei sair.
— Não importa, virá a tempo.
Para compreender bem a situação singular em que se achavam estes personagens todos, é mister transcrever aqui as palavras com que nessa mesma noite se despediram Magalhães e Cecília à janela da casa desta:
— Até amanhã, disse Magalhães.
— Virás cedo?
— Venho às 8 horas.
— Não faltes.
— Queres que te jure?
— Não precisa; adeus.
VII.
Quando entrou a semana seguinte, já na véspera do dia em que Oliveira se dispunha a sair e visitar o comendador, recebeu uma carta de Magalhães.
Leu-a com pasmo:
Meu querido amigo, dizia Magalhães; desde ontem tenho a cabeça fora de mim. Aconteceu-me a maior desgraça que podia cair sobre nós. Com mágoa e vergonha to anuncio, meu prezadíssimo amigo, a quem tanto devo.
Prepara o teu coração para receber o golpe que já me feriu, e por muito que ele te faça sofrer, não sofrerás mais do que eu já sofri...
Saltaram duas lágrimas dos olhos de Oliveira.
Adivinhava mais ou menos o que seria. Cobrou forças e continuou a leitura:
Descobri, meu querido amigo, que Cecília (como direi?), que Cecília me ama! Não imaginas como me fulminou esta notícia. Que ela não te amasse, como ambos desejávamos, era já doloroso; mas que se lembrasse de consagrar os seus afetos ao último homem que ousaria opor-se ao seu coração, é uma ironia da fatalidade. Não te contarei meu procedimento; facilmente o adivinharás. Prometi não voltar lá mais.