outros tesouros que a terra esconde e que só os olhos do zaorís[1]} podem vispar...

Então Anahangá-pitã, cansado pegou num cochilo pesado, esperando o cardume da desgraças novas, que deviam pegar p’ra sempre...

Só não tomou tenência que a teiniaguá era mulher...

Aqui está tudo o que eu sei, que a minha avó charrúa[2] contava à minha mãe, e que ela já ouviu, como cousa velha, contar por outros que, esses, viram!...

E Blau Nunes bateu o chapéu para o alto da cabeça, deu um safanão no cinto, aprumando o facão...; foi parando o gesto e ficou-se olhando, sem mira, para muito longe, para onde a vista não chegava mas onde o sonho acordado que havia nos seus olhos chegava de sobra e ainda passava... ainda passava, porque o sonho não tem lindeiros nem tapumes...

Falou então

o vulto de face branca e tristonha; falou em voz macia. E disse assim:

III

É certo:

não tomou tenência que a teiniaguá era mulher... Ouve paisano.

No costado da cidade onde eu vivia havia uma lagoa, larga e funda, com uma ilha de palmital, no meio. Havia uma lagoa...

A minha cabeça foi banhada na água benta da pia, mas nela encontraram soberbos pensamentos maus... O meu peito foi ungido com os santos

  1. Zaorís — V. adiante a lenda referente.
  2. Charruas — Tribo guerreira, indômita, acantonada sobre a Coxilha de Aedo, e dominando o rio Quaraí até o Uruguai e para L. até o rio Negro. As guerras e contínuas correrias que desde 1750 até mais de um século depois afligiram o Rio Grande e o Estado Oriental dizimaram esta tribo (como a outras) hoje por bem dizer, extinta. Desse quase acabamento e a deturpação das lendas que entre tais gentes floresceram.