Leão [1] nunca será mulher de D. Fernando de Portugal.”
E com um braço estendido para o logar sem nome [2] do supplicio, e com o outro curvado como quem affastava de si elrei, esta mulher vingativa era sublime de atrocidade.
“Tens razão, Leonor:—disse por fim D. Fernando, depois de largo silencio, em que os affectos inconstantes do seu caracter voluvel mudaram gradualmente.—Tens razão. A futura rainha de Portugal terá o seu desaggravo: as linguas que te offenderam calar-se-hão para sempre: os corações que te desejaram a morte deixarão de bater. No meu throno, até aqui de mansidão e bondade, assentar-se-ha a crueza.
- ↑ A familia de Leonor Telles suppunha-se descender de D. Ordonho II, rei de Leão.
- ↑ Logar sem nome. Nós pelo menos não nos atrevemos a pôr-lh’o. Sabemos só que em tempos remotos a forca esteve perto da igreja de S. João da Praça, freguezia cuja existencia data pelo menos do tempo de D. Affonso III. (Mem. para as Inquir. Doc. 2.º) Talvez o terreiro ou praça em que ella estava désse o cognome á parochia. Desconfiâmos, todavia, de que este terreiro se estendesse para o lado oriental da sé, e que nesse caso o nome fosse Aljami. D. João I fez mercê em 1392 ao bispo de Lisboa D. Martinho (Chancel. de D. João I, L. 2.°) de uns pardieiros no chão d’Aljami, que partem com os paços do dito bispo, para fazer umas casas e torre. Os paços dos bispos ficavam para o lado oriental da sé. Além d’isso Aljami parece derivar-se do arabico aljamea, que significa o laço com que se amarram o pescoço e as mãos.