Lisboa ácerca de adulterios, vestia de festa o seu mui canonico burgo. [1]
A cavalgada, que se víra descer ao longo do valle, já atravessava o rio da villa pela ponte do Souto [2] e encaminhava-se para uma antiga porta da povoação primitiva, porta conhecida ainda hoje, como então, pelo nome de Vandoma. Ao lado direito d’elrei ia D. Leonor, a rainha de Portugal: elle montado em um cavallo
- ↑ Este bispo D. Affonso era ainda o mesmo a quem elrei D. Pedro, dizem, quizera açoutar por sua própria mão em consequencia de elle haver commettido adulterio com a mulher de um honrado cidadão, historia miudamente narrada por Fernão Lopes chronica daquelle rei, e que nós não sabemos dizer até que ponto seja verdadeira. D. Rodrigo da Cunha, suppõe que o bispo, corrido desta aventura, escandalosa não pelo delicto, trivialissimo no clero daquelle tempo, mas pelo ameaçado castigo, cousa inaudita antes e depois de D. Pedro, saíra do bispado e nunca mais voltára ao Porto, posto que ainda vivesse pelo menos até maio de 1732, como se vê do catalogo chronologico dos bispos portuguezes, por J. P. Ribeiro. Esta opinião, que assenta n’um argumento negativo—a falta de noticias desse prelado nos documentos consultados por D. Rodrigo da Cunha, posteriores aos eminentes açoutes—é desmentida pelo testemunho de Fernão Lopes, no cap. 49 da chronica de D. Fernando, que fez presente D. Affonso á renovação das pazes d’Alcoutim, juradas no Porto em 1371. É por isso que, apesar de Cunha, nos pareceu natural fazer abençoar por um bispo, que se pinta como manchado de adulterio, um casamento adultero.
- ↑ Sobre esta antiga topographia vejam-se as inquirições dos annos de 1268 e 1348 nas Memorias das Inquirições pag. 45 nota 2, e Dissert. Chr. e Crit. tom. 5.º pag. 292 e segg.