de guerra; ella em um palafrem branco, levado de redea desde a entrada da ponte pelo infante D. João, que familiarmente falava e ria com a formosa cavalleira. Da banda esquerda o bispo D. Affonso, curvado e enfraquecido pela velhice, oscillava e fazia cortezias involuntarias a cada passada da mansissima e veneranda mula episcopal. Juncto ao velho prelado o infante D. Diniz caminhava em silencio, e no aspecto melancholico do mancebo se divisava que uma profunda tristeza lhe consumia o coração, vendo-se como atado ao carro triumphal da mulher que pouco a pouco se convertêra em sua irreconciliavel inimiga. Após estas principaes personagens via-se uma grande multidão de cavalleiros, clerigos, cortezãos, conselheiros, juizes da côrte, companhia esplendida, por entre a qual brilhava o ouro, a prata, e as variadas côres dos trajos de festa, que sobresaiam no chão negro das vestiduras roçagantes dos magistrados e clerigos. Adiante d’elrei as danças dos mouros e judeus volteavam rapidas ao som da viola ou alaude arabe, das trombetas e das soalhas. Segundo o antigo uso seguiam-se ás danças córos de donzellas burguezas, que celebravam cora seus cantos o amor e a ventura dos noivos. [1]

  1. Ácerca de semelhante usança veja-se F. Lopes. Chr. de D. João I, P. 2ª c. 96.