no terreiro de S. Martinho, e á luz de muitas tochas parte daquella multidão escoou-se pouco a pouco por diversas ruas, emquanto outra parte subia á sala principal, ou se derramava pelos aposentos dos paços, cujo silencio de quasi dous annos, depois du fuga d’elrei com D. Leonor Telles, era a primera vez interrompido pelo ruido de uma côrte numerosa, mas bem differente da antiga. A rainha havia quasi exclusivamente chamado a ella os seus parentes, ou aquelles fidalgos que lhe tinham dado provas não equivocas de sincero affeiçcão e substituíra á severidade antiga do paço todo brilho de um luxo insensato, e o que mais era, a dissoluçao dos costumes, que quasi sempre acompanha esse luxo. Depois de uma ceia esplendida, como o devia ser nesta côrte voluptuaria, apenas ficára na camara real D. Fernando e sua mulher, o conde de Barcellos D. Joâo, D. Gonçalo Telles, irmão de D. Leonor e um donzel da rainha, filho bastardo de outro bastardo, do prior do Hospital Alvaro Gonçalves Pereira, e que ella mais que nenhum estimava. Estas personagens achavam-se reunidas no mesmo aposento onde dous annos antes o beguino Fr. Roy viera revelar á então amante de D. Fernando os intentos de seus inimigos. Era deste aposento que ella saíra fugitiva e