“Falae:—­replicou D. Fernando.

“João de Lobeira acaba de receber o premio de sua traição:—­proseguiu D. Gonçalo.—­O desleal escudeiro possuia avultados bens, que ficam pertencendo á corôa real. Por vossa muita piedade podeis fazer mercê delles a seu filho Vasco de Lobeira; mas o pobre moço ensandeceu ha tempos! Tresleu com livros de cavallarias, e tão varrido está que não fala em al, senão em um que anda imaginando, e a que poz o nome Amadis. Para um mesquinho parvo e sandeu pouco basta, e vossa real senhoria bem sabe que a minha escassa quantia mal chega ...”

“Calae-vos, calae-vos; que isso é negro e vil;—­bradou elrei, redobrando-lbo o horror que tinha pintado no rosto.—­Deixae ao menos que a sua alma chegue perante o throno de Deus!”

“Apenas cincoenta maravedis!”—­murmurou D. Gonçalo, erguendo-se, e abaixando os olhos, afflicto com a lembrança de sua extremada pobreza.

A seis de junho da era de Cesar de 1411 (1373) em um dos andares da torre do castello, o veador da chancellaria, Alvaro Pires, passeando de um para outro lado, dictava a um mancebo vestido de garnacha preta, e que