visagens d’inspirado, com esses trajos de penitencia, com essa linguagem dos sanctos poderias quebrar a affeição mais pura, a de um pae? Enganas-te, Al-gafir! A minha reputação de prudente, verás que era bem merecida.”
Dizendo isto o kalifa ergueu as mãos como quem ia a bater as palmas. Al-muulin interrompeu-o rapidamente, mas sem mostrar o menor indicio de perturbação ou terror.
“Não chames ainda os eunuchos; porque assim é que dás provas de que não a merecias. Conheces que me seria impossivel fugir. Para matar ou morrer sempre é tempo. Escuta, pois, o infame, o hypocrita até o fim. Acreditarias tu na palavra do teu nobre e altivo Abdallah? Bem sabes que elle é incapaz de mentir a seu amado pae, a quem deseja longa vida e todas as prosperidades possiveis.”
O fakih desatára de novo n’um rir trémulo e hediondo. Metteu a mão no peitilho da aljarabia e tirou uma a uma muitas tiras de pergaminho: pô-las sobre a cabeça e entregou-as ao kalifa, que começou a lêr com avidez. A pouco e pouco Abdu-r-rahman foi empallidecendo, as pernas vergaram-lhe, e por fim deixou-se cahir sobre os coxins do throno, e cobrindo a cara com as mãos, murmurou:—“Meu Deus! porque te mereci isto!”