homem alto e magro fez voltar todos os olhos para aquella banda. Subindo a um escabello, elle deu signal com a mão de que pretendia falar.

“Ouvide! Ouvide!”—­bradaram alguns que pareciam os maioraes daquella multidão desordenada.

Todos os pescoços se alongaram a um tempo, e viram-se muitas mãos callosas erguerem-se encurvadas, e formarem em volta das orelhas de seus donos uma especie de annel acustico. O orador principiou:

“Arraya-miuda! [1] tendes vós já elegido, entre vós outros, cidadãos bem falantes e avisados para propôr vossos embargos e razoados contra este maldicto e descommunal casamento d’el-rei com a mulher de João Lourenço da Cunha?”

“Todos á uma entendemos que deveis ser

  1. Fernão Lopes dá a entender (Chr. de D. João I. P. 1.ª c.44) que a denominação de arraya-miuda se começára a dar aos populares no principio da revolta a favor do Mestre d’Aviz, para os distinguir dos nobres, pela maior parte fautores de D. Leonor e dos castelhanos; mas este titulo chocarreiro o havia tomado para si o povo miudo já d’antes e com muita seriedade. Em um documento de 1305 (Chancell. de D. Diniz L. 3º das Doações fol. 42 v.) se diz que outorgavam certas cousas os cavalleiros, juizes e concelho de Bragança e toda a arraya-miuda.