vós, mestre Fernão Vasques: —respondeu um velho, cuja calva polida reverberava os raios d’uma das lampadas pendentes do tecto, e que parecia ser homem de conta entre os populares.—Quem ha ahi entre a arraya-miuda mais discreto e aposto para taes autos que vós? Quem com mais urgentes razões proporia nosso aggravo e a deshonra e vilta d’elrei, do que vós o fizestes hoje na mostra que démos ao paço esta tarde?”
“Alcacer, alcacer! por nosso capitão Fernão Vasques:—bradou unisona a chusma.
“Fico-vos obrigado, mestre Bartholomeu Chambão!—replicou Fernão Vasques, socegado o tumulto.—Pelo razoado de hoje terei em paga a forca, se a adultera chega a ser rainha: pelo do ámanhan terei as mãos decepadas em vida, se elrei com suas palavras mansas e enganosas souber apaziguar o povo. E tendes vós por averiguado, mestre Bartholomeu, que o carrasco sabe apertar melhor o nó da corda na garganta, que eu o ponto em peitilho de saio, ou em costura de redondel ou pelote, e que o cutelo do algoz entra mais rijo no gasnate de um christão que a vossa enchó n’uma aduela de pipa?”
“Nanja emquanto na minha aljava houver almazem, e a garrucha da bésta, me não estourar:—