descobrir no companheiro imprevistas particularidades, reais e prosaicas, que vão surdamente desdourando o insubstituível prestígio poético que exerciam um sobre o outro.
Hoje um flato mal disfarçado, amanhã um ligeiro transbordamento de humor bilioso, em seguida uma cólica desmoralizadora, e em breve o marido já se não esforça por esconder os seus calos e a sua dispepsia, nem a esposa tem o cuidado de caracterizar-se de mulher bonita: já não mete os cabelos em papelotes para os trazer crespos sobre a testa, já não aperta com sacrifício a cintura e os pés, já não arma aqueles divinos sorrisos provocadores que parecia fazerem parte integrante da sua fisionomia, e já não arranja aqueles fascinantes olhares voluptuosos, que foram talvez o que mais decisivamente determinou a conquista do homem que agora é seu marido.
E as pequenas apoquentadoras misérias do gênio e do caráter, que se vão revelando dia a dia? E os egoísmos feminis? E os desleixos do corpo, que não chegam a ser desasseio, mas que já não são, decerto, o sedutor perfume que ambos sentiam um do outro, durante o período