com ser ele simples negociante e não notável artista, o afamado escritor, ou vulto ilustre na ciência. No exclusivismo do meu amor de mãe, teria até um grande desgosto se o marido de minha filha se revelasse, de um dia para outro, homem de talento singular e começasse a ser aclamado pelo público. Deus me livre! — seria uma desgraça!

Nem falar nisso é bom! o homem de talento não pertence à família, pertence à multidão, pertence à sua pátria, pertence ao mundo, pertence ao século; que sei eu? pertence ao diabo, pertence a tudo, a tudo, menos à pobre mulher com quem caiu na perniciosa asneira de casar. Além do que, o constante esforço encefálico, para conceber e produzir grandes obras de arte, traz fatalmente consigo o precoce esgotamento nervoso; o que, suponho, não preciso dizer que é de suma importância na felicidade conjugal.

Se eu fosse homem, sacrificaria de bom grado boa parte de minha força nervosa pela glória de ser um grande escritor, ou grande artista, ou um grande sábio; se eu tivesse filho daria prontamente, nem só minha saúde, mas a vida, se em troca de tal sacrifício