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Perto da rede jazia atirado um tronco seco destinado ao fogo. Bernardina, tomada de frenesi irresistível, alcançou com a ponta do pé a cabeça do tronco, e firmando-se nela, deu balanço à rede. Caiu-lhe então a chinela e com o movimento enfunou-se-lhe parte da saia arrendada, aparecendo, com uma tentação, o pé pequenino e metade da perna de perfeição incomparável.

Mas Bernardina não atentou no seu estado. Era outra a ordem de idéias que lhe andava no cérebro. Fervilhava-lhe aí a serpente do remorso e da saudade.

— Quando eu não quis falar com você diante daquela mulher foi justamente porque os meus segredos não eram para ela ouvir. Mas antes de tudo, não se demore; dê-me notícias dos meus. Minha mãe e Marianinha como estão? Há quase dois anos que as não vejo. Só Deus sabe a minha dor, as lágrimas que tenho derramado, longe dos meus, com saudades deles.

— Elas estão boas, Bernardina.

— Não houve nenhuma novidade?

— Houve somente a morte de seu pai.

— Desta já soube. Meu pai era tão bom para mim!

— Mas que vida é a sua, Bernardina?

— Não me fale, não me fale, Lourenço. Nem sei como me deixei desgraçar, em vez de morrer; antes tivesse morrido. Lá não souberam como eu fui roubada por seu Tunda-Cumbe, quando entraram com ele no