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que o vi chegar à janela, ainda que você está muito diferente. Está um moço alto, e bonito de fazer a gente ter oura de gosto de vê-lo.

— Mas por que se escondeu de mim? Por que fugiu tão depressa, tanto que a não pude ver senão pelas costas, e por isso não pude saber que era você?

— Fugi para lhe poder falar mais tarde. Se eu me desse logo a conhecer à vista da mulher que saiu daqui há pouco, ela não nos deixava sós, e eu não podia abrir-lhe o meu coração, como estou fazendo. Ela é uma boa mulher, mas não havia de consentir que os avistássemos, nem eu quero que ela saiba da minha vida.

— E o que faz você por estas alturas, Bernardina?

— Ora! Foi a minha desgraça. Mas por que não se deita como estava ainda há pouco? Deitemo-nos, para não parecer que estão aqui duas pessoas. Meta o seu braço por debaixo do meu pescoço. Falaremos baixinho. Direi assim tudo que lhe quero dizer. Você não sabe como estou satisfeita com a sua presença. Não tenha vergonha de mim. Faça de conta que ainda somos meninos.

A rapariga foi a primeira a deitar-se transversalmente na rede: o rapaz imitou-a. Os seus hálitos se confundiram. Os negros cabelos de Bernardina espalharam-se, em ondas, voluptuosas, pelas faces nédias e afogueadas de Lourenço, que parecia estar numa fascinação parva.