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bosques, dos rios, dos engenhos, das ásperas jornadas e dos sambas rudes, surgira como a estrela boeira nas madrugadas de verão. A rapariga iluminara-se com o fogo dos dezoito anos, cujo reflexo revelava nos olhos o calor da alma. Não obstante a vida, não raro orvalhada de lágrimas, que ela arrastava na solidão agreste da sua desgraça, tinha o seu corpo ganhado formas esbeltas, as suas feições distinta vivacidade. Ao clarão da fogueira, vira ele nesse vulto de natural elegância o quer que fosse que lhe descobriu novos mundos até então perdidos na vacuidade do seu espírito mais positivo que sonhador.

Depois que Joaquina fora morar junto de Marcelina, e para assim dizer à sua sombra, quase todos os dias ofereciam-se ensejos de Lourenço conversar a sós com Marianinha, impressionar-se da sua beleza fresca e rósea, e comover-se da brandura do seu natural. Muitas provas de estimação dava-lhe a filha mais nova de Joaquina e ele, se bem que não se havia entregado inteiramente a este amor, porque a juventude raras vezes se deixa cativar das paixões modestas, da ternura passada ainda que pura e imensa, sentia já por Marianinha doce afeição, que começava a encher-lhe o coração como o aroma do manacá silvestre povoa as abóbadas formadas pelas ingazeiras nas margens dos rios.

Ainda na manhã daquele dia, depois da cena de dor