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e prantos a que assistiu na sala do engenho, quando Lourenço desceu à cavalariça, seguiu atrás dele Marianinha trazendo os olhos arrasados de lágrimas; era a dor da separação que lhe arrancava aos sentimentos aquela triste homenagem.

"— Lourenço, Lourenço - perguntara ela - você se esquecerá de mim?"

"— Não me esqueço, não, Marianinha. Olhe, quando não esperar por mim, há de ver-me bem juntinho de você, de todos de casa."

"— Eu não deixarei nunca de esperar por você; esperarei sempre, de dia e de noite, a todo momento. Não se ocupa com ninguém, senão com você, a minha lembrança, a minha imaginação."

Quando o rapaz estava para tomar o cavalo, Marianinha aproximou-se, cada vez mais comovida.

"— Tome esta oração. Ela serve para você se lembrar de mim, e para o livrar dos perigos."

Era uma oração prodigiosa, um breve, cosido dentro de um saquinho de cetim, e preso a um rosário de contas tão límpidas como as lágrimas que se deslizavam pelas faces da moçoila.

"— Reze todas as noites, e todas as manhãs, a Nossa Senhora do Rosário esta coroa. Ela há de protege-lo."

Com as próprias mãos, hesitantes e trêmulas pela comoção, a filha de Vitorino lançara ao pescoço do rapaz o talismã popular misto de fetichismo e catolicismo, tão conhecido das gentes do campo. Lourenço