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Logo que Pedro Lima reconheceu Lourenço, voltou-se para os companheiros, e disse-lhes:

— Chegou a hora de tirar uma desforra deste pé-rapado. Meto-lhe a peia e tomo a camarada.

Assim falando, o cabra, que já sabia de quanto o almocreve era capaz, em vez de pegar a peia a que se referiu, segurou o bacamarte e examinou com atenção se a escova estava enxuta.

A esse tempo achavam-se os inimigos a dez passos de distância.

— Tire já o chapéu e apeie-se para passar por baixo da barriga do meu cavalo, pé-rapado de borra - gritou o bandido, pondo as pernas ao cavalo, e indo esbarrar com violência e arrogância em frente de Lourenço.

— Tu não sabes com quem está falando, cabra ruim. Era preciso que eu me chamasse Pedro de Lima, que já apanhou com uma bainha de parnaíba na cara, ou Manoel Gonçalves, que já levou Tunda da mão de escravos no engenho Cumbe, para cobrar esta ação de negro cambado.

Pedro de Lima não esperou por mais nada; levantou com a mão direita o bacamarte até a altura dos peitos de Lourenço, e ameaçando-o com uma tabica que trazia na outra mão, replicou alvoroçado:

— Se queres morrer, patife, repete o que aí disseste.