Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/195

ainda não veio, uma vez que está sabe Deus onde, devo ir ver se o encontro vivo ou morto.

— Filho abençoado, tornou-lhe Marcelina, era isto mesmo o que eu queria te dizer. Vai, e não voltes sem trazer Francisco adiante de ti. Não me digas nem por graça que ele morreu, porque assim como tu tornaste cada vez mais bonito, quando todos aqui diziam e até eu cuidava que já não existias, assim Francisco há de tornar também, gordo, forte e mais moço, que Deus não há de permitir que meu marido, tão bom, morra por aí além sem ter quem, na hora da morte, lhe chame pelo nome de Jesus.

Nada, porém, ficou assentado quanto ao dia da partida. Lourenço disse que se sentia cansado da longa jornada; D. Damiana, que ficara muito abalada do susto e comoção porque passara na noite precedente pediu tempo para escrever, com a devida pausa e meditação, uma carta minuciosa que Lourenço devia entregar a Amador, único parente que, conquanto preso, a podia atualmente valer e socorrer.

Um ponto negro, que se mostrara logo no horizonte iluminado pela presença do rapaz, começou a avultar de hora em hora - a idéia do perigo que ele correria, se se deixasse ficar no Cajueiro, enquanto não seguia para o Recife. Aos olhos de Marcelina, prudente e prevenida, já começavam a aparecer a cada canto os vultos suspeitos, os espiões sinistros que tempos atrás haviam tido as vistas sobre a palhoça,