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ameaçando devassá-la e esmerilha-la, cantinho por cantinho, na intenção de descobrir quem havia incorrido no ódio dos mascates pela sua dedicação aos nobres. Marcelina tinha o coração nas mãos, de sobressaltada e temerosa que andava. Ainda não haviam decorrido vinte e quatro horas depois da chegada de Lourenço, e já a solicitude da cabocla, estremecendo pela segurança dele, não sabia onde o resguardar de emboscadas e delações inimigas.

— Tu não podes ficar aqui muito tempo, Lourenço. Vê lá como te haveis.

Depois de refletir por alguns momentos, Lourenço, dando mostras de ter achado a melhor solução, tranqüilizou os espíritos com estas palavras:

— Não se importem comigo. Os cabras não hão de lamber-me. Tenho um lugar que ninguém suspeita, e para mim é o melhor que eu podia encontrar. Irei dormir lá todas as noites; e até de dia, estando eu lá. Não há quem seja capaz de descobrir onde estou.

Passou-se o dia sem coisa de maior. Quando o sol desapareceu por trás da mata do Bujari, deixando cair sobre a estrada as primeiras sombras da tarde, o rapaz, armado com faca e pistola - uma pistola que encontrara em casa do padre Antonio - despedindo-se das mulheres, tomou pelos fundos do sítio do mesmo padre, e alcançou a mata. Logo adiante deu com o cavalo dentro do fechado onde o deixara todo o dia. Em vez de o cavalgar, foi levando-o por um cabresto,