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— Não sabia. Eu não quis contar-lhe o ato de desespero praticado ontem por ti.

— Fez bem, minha mãe; mas o que não farei é vê-la mais.

— Por que não hás de vê-la, Lourenço, se a pobre senhora se mostra tão agradecida a todos nós?

— Mostra-se muito agradecida? Não tem de que. Não passamos de uns miseráveis que não lhe fizemos senão o nosso dever. Se ela não nos tivesse nesta conta, não havia de deixar-nos com tanta ingratidão.

Quando ia a prosseguir, Lourenço sentiu sobre o ombro uma pressão meiga. Voltando-se rapidamente, viu junto dele a gentil viúva. A mão, que lhe pousara no ombro um instante tomou uma das dele. Nunca o rapaz tinha sentido o doce contato dessa mão fina e deliciosa, senão por ocasião do desmaio da viúva, ou nos fantásticos delírios em que ele se absorvia, durante as últimas noites no sobrado.

— Não me queiras mal pelo que eu faço contra a minha vontade, Lourenço, disse ela enternecida. Tenho o coração despedaçado. Minha alma fica no Cajueiro, ao lado de vocês. Mereço mais a tua compaixão do que o teu agravo. Levo comigo a saudade e a tristeza, bem cruéis companheiras; levo-as para bem longe, donde talvez não torne mais nunca a esta terra dos meus pais, das minhas recordações, das minhas mágoas. Não te esqueças inteiramente de mim, Marcelina, nem tu, Lourenço.