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baile. Sorriu feliz, agitou-se, pensou em mil assuntos, espreitando a ocasião de transbordarem as suas comoções.

Alguns dos mais insofridos moradores correram ao porto, onde deviam ter trocada em mágoa a leviana alegria. Contra todas as presunções, a notícia trazida pelo mensageiro auspicioso não era agradável; ao contrário, vinha impregnada am azedume e fel. A causa da estrondosa manifestação era o perdão concedido aos nobres por el-rei.

Conhecida esta causa, a agitação aumentou: uns corriam para aqui, outros para acolá, a levarem a notícia; mas, depois começaram a debandar-se, a fugir dos lugares públicos, a concentrar-se no interior dos estabelecimentos e das casas, onde se espraiaram em reflexões sobre o novo tema.

As praças e esquinas ficaram desertas. Súbita paralisia pareceu tomar as ruas. Zacarias de Brito, mercador apacatado, dava ao diabo a fatalidade que escolhera seu navio para portador de tão infausta novidade.

Penetremos, por volta de sete horas da noite, no palácio das duas torres, outrora morada de Maurício de Nassau, agora residência do governador Machado.

À luz de um candeeiro de prata, seis sujeitos conversam sentados em torno de uma mesa, sobre a qual se vê estendido um papel que, pela flacidez, está denunciando ter andado de mão em mão.