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— O pior de tudo isto, o nosso mal, excelentíssimo, está em não ter feito em Pernambuco a justiça que, por seus crimes, mereciam os caneludos, disse o Cutia.

— E não sabeis vós que sempre foi este o meu parecer e desejo? Ignorais, sr. desembargador sindicante, que entre estas mesmas paredes que nos estão ouvindo, reuni eu, entre junho e julho de 1712, com o dr. ouvidor Bacalhau e o defunto juiz de fora Carvalho, os ouvidores da Paraíba e das Alagoas para, em relação, julgarmos dos crimes cometidos pela nobreza rebelde? Ignorais que os principais motores do levante devem o trazerem ainda hoje fixas nos ombros as cabeças serpentinas, não à generosidade minha, que nunca a tive nem a terei jamais para réprobos semelhantes, mas à pertinácia e firmeza brutal do ouvidor das Alagoas, João Soares da Cunha, e do ouvidor da Paraíba, Jerônimo Correa do Amaral, muito nosso conhecido, que com o pretexto de nada poderem resolver sobre o assunto sem ordem expressa de el-rei, se retiraram a seus distritos, deixando com isto mais seguros em sua ousadia os réus, então impunes, agora perdoados? Não sabeis vós, sr. sindicante, que do ouvidor das Alagoas corre até assinado um infame papel em que declara lhe terem sido oferecidos pelos nossos amigos três mil cruzados para que votasse pela execução dos réus?

— De tudo sei, excelentíssimo - respondeu o Cutia;