Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/42

A vida de Lourenço entrava em nova fase depois do que se tinha passado no memorável 23 de agosto de 1711.

Com o cerco do Recife, os produtos das pequenas lavouras começaram a escassear, e consequentemente a encarecer. Todos os lavradores da zona das matas, que circula o Recife, tinham acudido ao chamado do governo a fim de pegar em armas, arrastando consigo os matutos e escravos que cultivavam suas terras. Por isso, aqueles que por qualquer circunstância especial não se acharam neste caso, e puderam prosseguir o seu trabalho do campo, depressa começaram a vender por bom dinheiro as sementes e cereais que levavam ao Recife. Compravam-lhes os capitães-mores esses produtos por ordem do governo para manter as gentes que sustentavam os presídios. E além de lhes comprarem a mercadoria, consideravam grande favor o apresentarem-se com ela, porque, sem este recurso, sustentar o cerco lhes seria impossível.

Marcelina, que tinha o instinto mercantil mais desenvolvido, entreviu os grandes resultados que deveria tirar das circunstâncias. Infelizmente, não podia encher a medida dos seus desejos, porque, além de Francisco não plantar senão quanto era necessário ao sustento da família (nem dispunha de meios para mais, ainda que o quisesse), o ajudante de tenente o levara para a capital, como dissemos. À vista de tão favoráveis promessas, o matuto não achava argumentos