Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/59

disse Lourenço a meia-voz debaixo da terra, sentindo serenada com as palavras do capitão, parte da sua grande cólera. Assim foi bom. Os nobres precisam da tua vida, miserável peixeiro, para tomarem a vingança que mereces. Havemos de ver qual dos dois sangues deixará primeiro de correr em Pernambuco, se o teu sangue de bicho da outra banda, se o da nobreza de minha terra, o sangue azul daqueles que te mataram a fome e agora cobres de lama e desaforos.

E voltando-se para o capitão, acrescentou:

— E o que faz vosmecê, seu Falcão d'Eça, que não mostra ao governador e ao ouvidor dos mascates para quanto presta o seu brio? Será possível que tanta gente, tanto fidalgo limpo, tanto homem rico e que sabe onde tem as ventas, esteja a sofrer as ousadias de labregos sujos, que deviam ser botados para fora à peia?

— Veremos agora o que se há de fazer - disse o capitão.

Os pernambucanos metidos entre a escolta tinham sido presos por ocasião da diligência que vem apontada nas crônicas daquele tempo com a denominação de caçada geral.

O fim principal desta caçada, para cujo bom resultado os bandoleiros do Camarão e do Tunda-Cumbe até amestraram cães a pegar gente no mato, era destruir pela prisão de Falcão d'Eça, que por suas grandes faculdades naturais, se tornara o apoio da