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ao ponto de prenderem o ilustre senhor de engenho, como se fora um dos seus negros: Lourenço estava quase fora de si, arrebatado, nas asas do desespero, da vingança e do ódio.

— "Seu" Falcão - disse ele ao saírem do estreito - se vosmecê não pensa em meio de prender, açoitar, matar, queimar os infames camarões e tunda-cumbes, escusa de estar com estes atalhos e estas voltas, eu não sirvo para isso, não senhor; eu queria morrer mesmo entre eles, contanto que matasse esse cachorro que tem feito tantos latrocínios por aí além.

Ouvindo estas palavras, o capitão parou e encarou o rapaz, como quem queria ler-lhe o íntimo através da face.

— E que cuidas tu, Lourenço? inquiriu a modo de ofendido. Cuidas que não é o meu pensamento de todas as horas, de todos os instantes, tomar uma vingança dos nossos inimigos? Não sabes que estava tudo pronto para darmos hoje um assalto ao engenho de Manoel Carneiro, e tirarmos dali o governador e o ouvidor, e enforcar depois um na tripa do outro? Mas em toda parte há traidores: Cristo teve um Judas para o entregar: eu tive um cunhado. Se não fora a infame traição, podíamos ter a esta hora nossos principais carrascos, prontinhos para um sarapatel no meio destas matas.

— Mas - disse Lourenço - por uma vez mentir fogo