O Couto fez um gesto soberbo, e uma saída teatral.
Tinha assistido mudo e com aparente indiferença a esse incidente; mas que rápida sucessão de sentimentos houve no meu coração! À vaidade de ver Lúcia ceder pronta e espontaneamente a um desejo meu apenas suspeitado, sucedeu o prazer da humilhação do Couto em minha presença. Depois, quando o velho libertino revelou o procedimento vil da cortesã, e esta com toda a desvergonhez apanhou a lama em que patinhava para lançá-la ao seu parceiro, senti, com o asco e o vexame de achar-me ligado a tanta miséria, um consolo imenso das torturas que sofrera naquele dia. Esses dois entes são dignos em do outro, murmurou minha alma ao coração ainda magoado.
Mas restava uma última emoção. Reatar as relações que bradas dessas duas criaturas; entregá-las uma à outra com' presas destinadas a saciar a cupidez e a lascívia uma da outra jungir o vício ardente e moço, ao vício enregelado e decrépito fazê-los arrastar na mesma canga a crápula ignóbil, ferroando-os com o aguilhão do meu sarcasmo: seria a minha vingança.
Vingança de quê ? Tinha-me essa moca ofendido para assanhar em mim o ódio e os instintos perversos do coração humano? Não era eu a causa única de tudo o que se passava.
A razão dormia naquele momento. Ordenei à escrava que chamasse o Couto em nome da senhora; e o fiz com tanto império que ela obedeceu-me apesar do gesto de Lúcia.
Então voltei-me para esta:
— Agradeço-lhe muito a fineza; mas é um sacrifício que não tem o direito de fazer, e que eu não