milagre, deixando cair a grinalda aos pés e rolar as tranças pelas espáduas.
Ouviu-se rumor de passos na sala.
— Não faça isto!. . . Aí está o Couto; ele vai ficar furioso e com
razão! Pode dar algum escândalo! disse escarnecendo.
A um sinal de sua senhora, a escrava de Lúcia abriu a porta ao Couto, que entrou sem me ver.
— Ainda neste estado!. . . Se eu adivinhasse, tinha trazido o cabeleireiro para penteá-la.
— Não se precisa aqui desta gente! murmurou Joaquina
— Pois faz a tua obrigação, penteia tua senhora; e se andares depressa, terás uma boa molhadura.
— Não vou ao Paraíso! disse Lúcia friamente.
— Como, minha amiga! Que capricho é este! O baile deve estar brilhante. O que há de mais chibante na corte lá se achará esta noite. Faze idéia! Venderam-se todos os bilhetes ! Tão cedo não teremos outro baile como este! Bem sabes que são raros no Rio de Janeiro.
— Prefiro ficar em minha casa. O Sr. Silva toma chá comigo; estaremos sós e conversaremos mais à vontade!
Foi então que o Sr. Couto me viu sentado no sofá; desta vez não me cumprimentou. Era demais.
— Então é esse o motivo por que não vai ao baile! E foi para isso que me mandou chamar e me fez acompanhá-la esta manhã pela Rua do Ouvidor? O meio é engenhoso! Finge-se um arrufo, e põe-se o amor em leilão a quem mais der.
— Uma infâmia de mais ou de menos para quem já perdeu a conta, vale a pena que se ocupem com ela? Não vou ao teatro, repito; e peço-lhe que me deixe tranqüila.