tão absorvida em sua meditação que não me percebeu.
— Onde andava este pensamento tão longe de mim? disse-lhe sentando-me ao lado.
Sobressaltou-se, e abanou a cabeça sorrindo:
— Longe de ti?... Estava fazendo projetos para a nossa felicidade.
— Já não é ela uma realidade, Maria?
— E por isso, porque eu sei o que ela vale, receio que não dure sempre. Tu vives num mundo, Paulo, onde há condições que serás obrigado a aceitar, cedo ou tarde; um dia sentirás a necessidade de criar uma família, e gozar das afeições domésticas.
— Não me casarei nunca!
— Agradeço-te essa palavra; mas recuso o sacrifício. Se a tua bondade por mim não te cegasse neste momento, me darias razão. Há sentimentos e gozos que ainda não sentiste, e só uma esposa casta e pura te pode dar. Por mim te havias de privar de tão santas afeições, como são o amor conjugal e o amor paterno ?
— Assim, eram estes os projetos que fazias sobre a nossa felicidade? repliquei com um sorriso amargo. Se essa necessidade de que falas é tão forte que ninguém se pode esquivar a ela, o que eu contesto, nunca pensei que fosses tu que a lembrasse.
— Escuta-me primeiro, Paulo, meu amigo; depois pune-me, se eu merecer, mas não retires de mim o teu olhar. Pensas que essa idéia de que um dia me poderás abandonar por uma mulher a quem deverás consagrar toda a tua vida, não me tortura? Se assim fosse, por que me preocuparia com isto? É porque temo essa desgraça, que refletia no meio único de evitá-la.