saúdes, hurras e cantigas descabeladas, com o acompanhamento de uma orquestra de copos e pratos; no meio do rumor distinguia-se a voz de falsete do Couto, e a risada estridente de Lúcia, cujas volatas tinham o timbre metálico do canto da araponga entre os murmúrios da floresta. Apenas começaram as primeiras explosões produzidas pelos vapores do vinho aristocrático, os criados saíram batendo a porta do serviço, que fechou-se interiormente.

Estávamos sós; a pêndula marcava uma hora e quarenta minutos; pouco tardaria o momento solene que o dono da casa, novo Erasmo, destinara para a inauguração da loucura.

— Meus senhores, confesso que a minha vaidade de anfitrião, amador das artes, está um tanto humilhada! Ainda não disseram uma palavra a respeito dos meus quadros!

— De quem é a culpa? A magnificência da ceia e a amabilidade do hóspede não consentiram que levantássemos os olhos.

— Mas são realmente soberbas estas pinturas!... exclamou o Couto. Que posições admiráveis!... Ressuscitariam um morto. Apenas noto a ausência absoluta do sexo feio.

— Isso prova o bom gosto do pintor.

— E o mau gosto das filhas de Lesbos.

— Então acham essas mulheres admiráveis?

— Provocantes!

— Arrebatadoras! . . .

— E tu, Paulo, que dizes?

— Digo que vi ontem um quadro deste gênero, que eu não trocaria por todas as tuas pinturas! Era uma mulher; mas as formas palpitavam; a carne latejava sob os olhos que a devoravam; os lábios comiam