mulher não conhecia a arte da tentação. Se ardendo em febre sensual, quando estendia a perna nua ou descobria o seio a José, tivesse a força de olhá-lo como ao cão importuno que gira em torno do festim a quem o conviva repele com o pé, não se passaria muito tempo sem que o animal exasperado se lançasse sobre o osso, que o tentava, para devorá-lo, embora soubesse que lhe atravessaria a garganta.
— Mas eu não sou José I, respondi sorrindo; e prefiro a carne que me dão, ao osso, que me recusam.
— Por isso mesmo, bebeste o primeiro trago do vinho provaste uma vez do fruto proibido. Já conheces o amor dessa mulher: é um gozo tão agudo e incisivo que não sabes se é dor ou delícia; não sabes se te revolves entre gelo ou no meio das chamas. Parece que dos seus lábios borbulham lavas em bebidas em mel; que o ligeiro buço que lhe cobre a pele acetinada se eriça, como espinhos de rosa através das pétalas macias; que o seu dente de pérola te dilacera as carnes deixando bálsamo nas feridas. Parece enfim que essa mulher te sufoca nos seus braços, te devora e absorve para cuspir-te imediatamente e com asco nos beijos que atira-te à face!
— É verdade! disse eu lembrando-me, mas já a senti uma vez sem esse sabor agro e corrosivo.
— Porque teu paladar se vai habituando. Só conheci uma criatura assim e não era uma cortesã... Mas não se trata disto, atalhou Sá como repelindo uma recordação importuna. Quando supuseres que o tédio te invade, procurarás debalde o prazer; a mulher a mais provocante, esteja ela possessa de vinho e de amor, te parecerá morta. Eis o perigo: terás a força de resistir?
— Tu não resististe ?