— O que dei não vale a pena de ser lembrado. Falemos do que devia dar, e não pude, porque não tinha. Neste mês que se passou, a tua vida não foi tão brilhante como era antes.
— Por que eu não quis, e não porque me faltasse coisa alguma. Nunca me achei tão rica como agora.
— Não tens sido vista nos teatros e passeios; já não tens um carro; não és enfim a mulher do tom que eu ainda conheci!
Aborreci-me de tudo isto!
— Não te podes aborrecer sem que o mundo repare!
— Como! Não sou senhora de viver a meu modo, desde que com isso não faço mal a ninguém? Se apareço, é um escândalo; se fico no meu canto, ainda se ocupam comigo.
Que queres! Há certas vidas que não se pertencem, mas à sociedade onde existem. Tu és uma celebridade pela beleza, como outras o são pelo talento e pela posição. O público, em troca do favor e admiração de que cerca os seus ídolos, pede-lhes conta de todas as suas ações. Quer saber por que agora andas tão retirada; e não acha senão um motivo.
— Qual? perguntou Lúcia com ansiedade.
Supõe que eu te sacrifico aos meus ciúmes; e não me perdoa. porque não sou bastante rico para ter semelhantes caprichos.
— É isso que o incomoda! Meu Deus! Fique descansado: terei carro, aparecerei como dantes! Hoje mesmo!... Verá! Não sabe quanto me custa esse sacrifício; mas um só beijo me paga com usura!
Estalou o lábio entre os meus.