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Bandos de claras Nymphas vagueavam;
E de traz dos rochedos, velhos Faunos,
Com lume a arder nos olhos, espreitavam...
Iris na densa nevoa escurecida
Que toldava o horisonte montanhoso,
Era uma face angelica acendida
Em luminosas côres espectraes...
E Diana, tão cruel em sua gélida
Castidade egoísta, perseguia
Com os seus cães ferozes e divinos,
A pobre caça timida e bravia!
Palpitante no ar, o Touro alado
Arrebatava Europa!
 E a Deusa eterna,
Junto ao corpo de Adónis desmaiado,
Tinha os Sete-Punhaes no coração!
E de pé, n'um rochedo, com a fronte
Coroada de pampanos viçosos,
O Deus Baccho cantava; e era uma fonte
De embriaguez divina a sua voz!
E de seu proprio seio a Terra mãe
O busto alevantando para os céus,
O Gigante protege na fecunda
Guerra que faz o Homem contra Deus!
E Hercules, manejando a enorme clava,
Parecia sonhar ... E era tão alto
Que só de monte em monte caminhava,
E o seu rôsto perdia-se nas nuvens!...


E Marános, extatico e surprêso,
Contemplava essa viva multidão

De Deuses, quando viu aproximar-se,