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E parava a scismar, como suspenso...
E os sentidos perdia ... e assim perdidos
Contemplavam melhor esse Além-Mundo,
Onde as almas e os soes recemnascidos
Vivem na infancia eterna do Universo.
E viam Eleonor com as estrelas
Dançando e rindo na suprema Altura,
Junto á Fonte sagrada d'onde nasce
A Vida em onda imensa que murmura...
De fronte erguida, sobre a terra em pé,
Marános era o Sonho, pois de sonho
Eram seu sangue e carne; e mesmo até
Seus ossos eram feitos de remotos,
Fossilisados sonhos primitivos
Que ha milhares de seculos pairaram
Na penumbra dos bosques pensativos
E das negras cavernas habitadas...


Mas já se via a Ermida no seu alto,
Sósinha e triste e branca do luar...
E ao lumiar da porta, em sobresalto,
A Saudade esperava, olhando a noite...


E o Silencio, o Luar e a Solidão
Caminhavam ao lado de Marános...
Tres Phantasmas da Terra em oração,
Sob o espectro de Deus que abrange tudo...
Tres Phantasmas da Terra, tres Figuras
Do principio do Mundo, e que ainda existem
Só porque são phantasmas ... e ás escuras

Vagueiam na tristeza das Montanhas...