«Se é triste a minha voz nos teus ouvidos,
É que ela vem cansada da viagem
Que teve de fazer ... Os teus sentidos
Afastam-me de ti ... Ver uma cousa,
O que é, senão estar já longe d'ela?...
Para que tu me vejas, é preciso
Que me afaste de ti; também a estrela
Só pôde ser visível na distancia...
«Ha de nascer um sol para os teus olhos,
E não mais me verás; e n'esse dia
Existirás em mim, como eu existo
Em teu corpo de treva e de agonia...
Eis o grande segredo ... Mas ainda
Vives longe de mim, embora eu viva
Perto de ti; embora eu toque e beije
Tua herdada tristeza primitiva...
Por emquanto, quem sou? A creatura
Que te fala das nuvens ... Ainda paira,
Entre a minha chimerica Figura
E o teu Corpo mortal e transitorio,
Essa fria distancia indefinida
Que te inunda de magua e de anciedade...
Mas hei de ser, um dia, aquela vida
Que deixarás de vêr ... para a viver.»
E Marános scismava ... E nos seus olhos,
Negros corvos famintos de beleza,
Vôa uma nuvem, outra nuvem passa...
E n'uma voz nevoenta de tristeza: