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Que esta clara presença comovida
Ha quantos anos já que te persegue!
Quantas vezes, a sós, eu te falava,
Em segredo, baixinho e com amor.
E ao pé de ti, sorrindo, me assentava
E meu sorriso alegre te envolvia...
Mas tu andavas triste e vagabundo,
De olhos vagos, perdidos não sei onde,
Assim como se entre eles e este mundo
Uma nuvem somnambula pairasse...»


Marános ajoelhando fervoroso,
Pendeu-lhe a fronte ardente sobre o peito;
E algum tempo ficou silencioso,
E nem ousava olhá-la face a face:
Tal era a estranha força de dominio
Que brilhava em seus olhos imortaes!
A luz da Lua Nova era uma aragem
De sonho sobre a rama dos pinhaes...
Eram de sonho as pedras; e de sonho
A terra onde Marános ajoelhou;
E sonho era ele proprio; e sonho a noite;
E sonho era a Mulher que lhe falou...
E respondeu confuso e entontecido,
Como disperso em nuvens de emoção:


«Sabia que um amor desconhecido,
Um vago sobresalto interior
Ha muito tempo já me perturbava...
E em meus olhos tentava definir
Essa dispersa luz que me doirava

De longe; da Tristeza e do Mysterio...