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E chorava e scismava, e para mim
Dizia:—Ó Sombra etérea que persegues
Meu sêr perdido e errante, sem um fim
Que lhe ilumine a vida e o seu destino!
Ó Sombra, toma corpo e carne viva!
E fala-me, e aparece! Quero vêr-te!—
E minha voz exhausta e fugitiva,
Caia-me nos lábios quasi morta.
Mas tu vieste, emfim, se por acaso
Pertences a esta vida; se não és
Um Fumo d'este incendio em que me abrazo,
Uma Fórma irreal do meu delirio...»


«—Eu sou a tua Eleita, a Virgem pura.
E vim rasgar as sombras, desvendar
O mistico sentido da Natura
E o mysterio divino da tua Raça.»


E sentindo Marános sobre a fronte
O amanhecente alvor da sua mão:


«Bemdita seja a hora em que te vi
E esta sombria e calma solidão;
E esta noite de encanto e de silencio
Que assim como o teu rôsto me deslumbra!
E esta paz amoravel, e este doce
E chimerico beijo da Penumbra!


Ó Phantasma aparente e verdadeira
Creatura! Meu sonho e minha carne!
Rosa mystica! Estrela! Companheira

Da minha Dôr errante e caminhante,