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«Hora do eterno e do fecundo amor!
Hora em que acima do horizonte escuro
Se encontram, rosto a rosto, o Sol e a Lua!
Hora estranha e sagrada do Futuro,
Hora da nova prece, hora bemdita!
Hora em que o Sol e a Lua se contemplam
Em casto amor e doce claridade;
Hora do Idylio cosmico e profundo,
—Beijo que é o Tempo; amor que é a Eternidade!
Hora em que a Vida e a Morte, n'um abraço
Se casam e fecundam! Hora estranha!
Hora de sombra e luz! Hora das minhas
Trindades! Hora santa em que a Montanha
É alma e corpo; é rocha e nevoeiro...
De joelhos, orando, eu te saúdo,
Como a sombra sósinha d'um pinheiro,
Com suas mãos phantasticas erguidas,
Saúda o Corpo e a Luz que a procrearam.»


Depois beijou a terra, onde seus olhos
A aparição da Noite contemplaram
E a divina surpreza da Manhã...
Era um logar alegre que nos fala
Á alma, por ter alma como nós...
Alma antiga e profunda que se exhala
Das cousas; e, subindo no ar parado,
Enevôa de sonho e de emoção
As ramagens extaticas das arvores
Que vivem mais de luar e solidão
Do que da propria terra onde nasceram.
Era um amavel sitio, onde os pinheiros

Viviam mais alegres e libertos