E vôa, e sobe, e abrange toda a Vida
E todo o céu, o inferno e toda a Morte!
Onde termina a côr que tens na face?
Onde começa a luz do teu olhar?
O céu beija-te os lábios; e esse beijo
Através d'ele vôa sem parar,
Dando ás nuvens o fogo que as devora,
E dando á estrela a luz que ela derrama;
E põe nas aureas mãos da Deusa Aurora
O eterno Facho ardente e fecundante».
E Marános olhava para aquele
Encanto, n'um desejo! como quem
No seu olhar se integra e vae com ele
Até á cousa vista e desejada!
E sentia a Donzela em pleno rosto
Aquele olhar ardente que lembrava
Lume de braza viva; e nem sequer
Se atrevia a fitá-lo ou lhe falava...
E a roca em suas mãos estremecendo
Emaranhára a estriga e o loiro fio...
Mas, por fim, n'um esforço, recorrendo
A todo o seu vigor, assim lhe disse:
«Quem és tu? Porque falas com a tua
Propria sombra em voz alta? E te diriges
Ao sol que te não ouve e á luz da Lua
Que é reflectida luz de indifferença?
Vens de longe, talvez ... Na tua fronte
Paira o vago crepusculo infinito
Da distancia...